Beetlejuice Beetlejuice (2024) — Review.

Fale mais uma vez e só terá diversão.

Fausto
6 min readSep 25, 2024

Tim Burton em seu auge em meados dos anos 80 e propriamente por entre os anos 90, era um diretor tinha um estilo tão divertido ao mesmo tempo que mórbido. É tolice dizer que nem todo diretor tem um estilo. Todo diretor tem um estilo de filmar, desde Michael Bay ao Tarantino, todo mundo tem um mote de criação. Até os irmãos Russos com o seu modo frio de estúdio e uma câmera parada. Todo mundo tem um estilo, mas o de Tim Burton é rico e chamativo com o seu. Muito devido a sua equipe de direção de arte, vencedora de oscar, que elevam e traduzem suas ideias mórbidas. O diretor criou vários clássicos como Edward Mãos de Tesouras (1990), Batman (1989) Ed Wood (1994) e o Estranho Mundo de Jack (993). Entre esses clássicos está o quase perfeito Beetlejuice (1988), onde sua visão e característica de mundo mais se evade e chega onde acredito o diretor sempre quis chegar, já que em Mundo de Jack tem tudo dele, mas se trata de uma animação e ele nem dirigiu.

Como inacreditavelmente um fã do diretor, acredito que o seu auge chega ao fim quando ele faz um péssimo Planeta dos Macacos (2001), mas depois o seu Peixe Grande (2003) mostra toda a sua maturidade e sempre em emociona. Mas depois o diretor se torna uma sátira de si mesmo e começa a dupla com Johnny Depp. Acredito que muita gente e umas góticas, começaram a curtir o diretor dessa fase, em que ele faz quilos de filmes com Deep. Tim Burton fez muito dinheiro aqui, mas sua imagem e estilo o tornaram um desconhecido pela crítica. Desde então nunca fez nada que valesse a pena, só sua bolha de seguidores neon góticos ainda o seguem, por isso Beetlejuice 2 é um novo começo, talvez uma terceira fase da sua carreira, onde ele pode juntar seus fãs antigos e novos, ou fuder tudo de uma vez.

Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Talvez eu tenha exagerado um pouco na introdução, mas é que o Tim Burton é muito querido, ele embalou minha infância com seus clássicos na Sessão da Tarde. Por isso esse gótico estranho sempre vai ter um lugar no meu coração. Então falo com muito amor que assisti Beetlejuice 2 com um sorriso no rosto o filme inteiro, até mesmo nas partes desinteressantes, eu tive calma, por que esperava o Besouro Suco aparecer e dizer algo irônico e balançar a cabeça. A nostalgia é uma droga dos infernos, como diria Rick James.

Sempre que uma continuação usa os artifícios do primeiro filme em demasia, você percebe rapidamente que a história vai ser uma merda. Isso é um péssimo roteirista trabalhando, pegando os mesmos artifícios e colocando os personagens em outras situações. Dê uma olhada na trilogia Se Beber não Case (2009). O primeiro é um sucesso, o segundo é igual ao primeiro, só que eles estão em Bangkok, já o terceiro eles nem disfarçam e voltam pra Vegas. Uma escrita muito suja. O Poderoso Chefão 2 (1974) pode ter a mesma cena de encerramento com matanças, mas a história vai pra outro lugar. Outro exemplo é a saga Indiana Jones, a base é a mesma, mas as tramas são tão distintas que cada filme parece que o Dr. Jones está em uma dimensão diferente em cada filme.

Esse é o grande problema do novo Beetlejuice, 36 anos depois do primeiro filme cria um buraco muito grande e a velha Hollywood tem medo de se arriscar, então fica tudo muito no gancho do filme de 88, mas se fosse diferente do que foi, eu duvido muito que seria aceito, mesmo com toda a importância do Tim Burton. Temos a música Banana Boat Song” do Harry Belafonte, uma cena que tenta imitar a possessão do primeiro com uma música que não cola e muitas referências que poderiam ser apenas inseridas nas introduções dos personagens. O fato é que eu não quero comparar o primeiro filme com o segundo. Eu só quero assistir o longa independente de qualquer coisa.

O trio de atrizes trabalha de um modo tão familiar que é difícil você não ver uma versão de você na adolescente chata e cínica de Jenna Ortega ou sua mãe na Winona Ryder ou em Catherine O’Hara. As três gerações debatendo-se cada uma com uma etapa da vida amorosa e com o luto, só que cada uma da sua forma, a Ortega se retraindo, Winona vivendo a vida de outra pessoa e Catherine O’Hara encarando tudo do jeito dela e nada mais. Também vemos muito dos dilemas familiares, muito sobre mãe e filha, um ponto muito positivo que o primeiro tenta de um modo estranho abordar. Todas as três criam uma base muito boa para a trama, mas eu ainda acho Catherine O’Hara incrível, sua personagem tem um papel maior agora e só temos a agradecer.

Os outros personagens servem como base e participações especiais, o Detetive de Willem Dafoe é inútil, mas eu achei muito engraçado, mostrando que ele pode fazer de tudo mesmo. Justin Theroux já é o contrário, seu papel tem certa importância, mas eu não consegui ver nem graça e nem carisma. Monica Bellucci faz uma participação maravilhosa, sua cena de introdução funciona demais, até o Denny Devito foi melhor que o marido da Lydia. Isso me traz no garoto dos anos 90, a ideia que ele estava morto e que ele é um psicopata e não só um interesse amoroso deu muito certo, podiam ter escalado um ator melhor, ou até um famoso, com esse, a ideia boa ficou esquecível.

O melhor realmente deve ficar para o fim. Beetlejuice é uma força da natureza, um personagem que vai ficar para a história do cinema. Michael Keaton depois de reprisar o seu Batman volta com outro personagem icônico e mais um com sua dupla com Tim Burton. O ator ainda está na vontade e no ritmo com o personagem e a idade só ajudou, tanto na composição, tanto para auxilio com os maquiadores, já que o Beetlejuice é um esculacho mesmo. Gostei muito de explicarem a origem do personagem, algo que eu sempre fiquei imaginando.

Tim Burton não é mais o diretor que já foi, essa sequencia não tem muitos de seus atributos, tudo é muito técnico, muito bem entregue, mas técnico demais, sem nenhum acréscimo. Manter os monstros de massinha, os mortos todos feitos com maquiagem e alguns efeitos práticos e tratar bem a sua história. Diferente do que ele fez em Dumbo (2018), onde o mundo é um fundo verde. O único pedido mais digital foi a parte em que eles vão para a lua de Jupiter e aquele verme comedor de mortos finalmente aparece de um modo visível. Beetlejuice 2 possui um mundo estruturado e cheio de referências ao fundo. Senti muita falta de uma direção de arte mais forte e a trilha sonora tinha tudo que dar certo, mas só ficou.

Não vou brigar se existir um terceiro filme, não posso impedir e com certeza vou assistir. Lembro da série animada e de como todo esse universo maluco me intriga, lembro também que minha mãe faleceu meses antes da estreia do longa, ela gostava muito do primeiro filme, “O Besouro Suco” como ela chamava, então dedico essas palavras a ela, vou ver muita coisa sem sua presença física, mas do que já assistimos juntos nunca vou esquecer.

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Fausto

Análises frias, as vezes com um pouco de ódio e profundidade ousada sobre Cinema, livros e hq´s🎬📝🖊️ | intagram: @CineFausto7